CENTRO REGIONAL DE ESTUDOS, PREVENÇÃO E RECUPERAÇÃO DE DEPENDENTES QUÍMICOS DA FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - CENPRE/FURG

Fernando Amarante Silva
Eli Sinnott Silva
“Estamos diante de uma civilização na
qual modificar o estado de humor
através de uma droga, se converteu
em algo habitual e corriqueiro.
Estamos vivendo a civilização química”.
Amarante/93(1)

INTRODUÇÃO

O uso de drogas é uma ocorrência de todos os tempos e de todos os povos, e não temos conhecimento, até hoje, de uma sociedade humana na qual não tenha sido feito uso de alguma droga. Logo, dentro de uma perspectiva histórica, a droga e o homem são companheiros de longa caminhada. Na metade do Século XX esse fenômeno  se expandiu, tomando proporções assustadoras, preocupando todos os níveis sociais, tornando-se uma pandemia (2).

Sabemos que, entre as drogas psicoativas, o álcool é um dos principais responsáveis pelas mortes ocorridas no mundo, que a maioria das internações nos hospitais psiquiátricos ainda está relacionada com o alcoolismo e que essa droga, junto com o tabaco, são os psicotrópicos mais consumidos pela população estudantil brasileira. É sabido que um em cada quatro habitantes do mundo faz uso de drogas; que as indústrias farmacêuticas, de bebidas alcoólicas e de fumo são as mais rendosas do planeta. Em 1992, os tranqüilizantes ocuparam o 4º lugar entre os medicamentos mais vendidos no Brasil. No Rio Grande, Rio Grande do Sul, cidade de pouco mais de 180 mil habitantes, esse medicamento ocupa o 5º lugar entre os comercializados nas farmácias. Tal fato demonstra que o consumo de medicamentos psicoativos deixou de ser um privilégio das grandes cidades (2).

As causas destas ocorrências são as mais diversas, mas pelo menos três delas queremos destacar: primeiro, o incentivo ao consumo de drogas em geral feito pela mídia; segundo, a ignorância do usuário sobre as conseqüências da utilização de drogas e em terceiro lugar, a necessidade vital de um "amortecedor" entre o homem e o mundo.

Tudo isso permite-nos depreender que estamos diante de uma civilização na qual modificar o estado de humor através de drogas converteu-se em algo habitual e corriqueiro. – Nós estamos vivendo na “civilização química” (1).

Preocupados com esta realidade e admitindo que a universidade deve ser uma instituição construída por princípios de democracia, liberdade, fraternidade, justiça, moral, desenvolvimento científico, tecnológico e cultural, ética e ciência para o bem, é que admitimos que ela é uma entidade onde a ciência, a educação e a cultura se entrelaçam no desenvolvimento da igualdade social, que começa com a educação, é praticada com o apoio da educação e somente prospera com uma boa educação. Essa universidade deve interagir estreitamente com as comunidades local e regional, fazendo-as beneficiárias dos avanços científicos que produz, ao mesmo tempo em que se nutre das informações que obtém nas ações de extensão.

HISTÓRICO

Com base nessa característica da universidade interativa com a comunidade, em 1989, o Departamento de Ciências Fisiológicas (DCF) deu início ao trabalho extensionista conhecido como Projeto Educativo e Preventivo sobre Drogas Psicotrópicas, uma atividade da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (FURG) que tinha como objetivos a educação e a prevenção ao uso de drogas  (3,4).

Foi uma experiência desafiadora, pois havia a necessidade de organizar um longo percurso que empreendíamos desde meados dos anos sessenta, quando treinávamos alunos da Faculdade de Medicina de Pelotas para participarem da “Campanha Nacional sobre Tóxicos”, patrocinada pelo Ministério de Educação, sob a Coordenação Geral do Prof. Dr. E. A. Carlini. A proposta era fazer uma exposição teórica seguida de demonstração, em sala de aula dos cursos ginasiais das escolas do Município de Pelotas, dos efeitos de algumas drogas, como morfina, maconha e anfetamina. Campanhas nesse sentido já haviam sido realizadas nos anos de 1959, 1965 e 1966 em São Paulo (5). Erramos e aprendemos muito, mas sempre mantivemos o forte desejo de tentar prevenir os jovens dos problemas relacionados com as drogas.

Foram nossos incentivadores Lauro Sollero e Elias Murad. Com eles aprendemos muito.

Em 1968, conhecemos o Prof. Sollero, como gostava de ser referenciado, Titular de Farmacologia e Terapêutica Experimental da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro. Conquistamos dele tanta simpatia, que chegamos a merecer sua indicação para assumir a disciplina de Farmacologia da Universidade de Brasília, o que não aceitamos. Com suas apostilas sobre farmacodependência (1970), que, em 1979 (6), reformuladas e atualizadas, foram editadas em forma de livro com o mesmo nome, aprendemos os primeiros conceitos sobre farmacodependência, dependência psíquica, dependência física e outras tantas.

Com Murad, através de seu livro “O que você deve saber sobre os psicotrópicos” (7) e, mais tarde, participando do “Programa Educativo sobre Drogas que Provocam Dependência (Tóxicos)”, um Curso Intensivo de 42 horas, realizado na Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte - MG em 1983, firmamos nosso gosto e preocupação com o assunto. Nessa época já havia uma grande busca, entre as  escolas do Rio Grande e de Pelotas, por profissionais para fazerem palestras sobre drogas para seus estudantes. Essa atividade, em nossa avaliação, não atingia o objetivo das partes interessadas, pais, professores e estudantes. Mas era a tendência predominante dos programas de prevenção das décadas de 70 e 80.

Em um rápido retrospecto histórico das correntes “prevencionistas” brasileiras, vamos encontrar os seguintes princípios:

Nos anos sessenta – predominava a “tática do terror”: surgiam os primeiros programas com enfoque voltado para gerar o medo das drogas entre os adolescentes. Estimulava-se a mudança de comportamento, enfatizando-se o perigo no uso das drogas psicoativas.

No início dos anos 70 – “Somente fatos e informações” sobre farmacologia das drogas e dados estatísticos sobre o seu efeito na utilização a longo prazo eram abordados nos programas preventivos.

As “estratégias afetivas”, estimulando a auto-estima e a imposição de valores estereotipados, caracterizaram os finais dos anos 70.

No final dos anos 80, surgiram as chamadas “abordagens alternativas”; criavam-se os grupos de teatro, estimulava-se a prática de esportes e a formação de grupos de jovens ditos "sadios".

A partir dos anos 90, tem início a “abordagem multidimensional”, passando a ser utilizadas as estratégias prevencionistas de múltiplos enfoques de acordo com as características sociodemográficas da população. Firmam-se os princípios de multidisciplinaridade nos programas de prevenção e a busca da transdisciplinaridade. Consolidam-se os diversos níveis de prevenção, incluindo-se entre eles a redução de danos (8).

Em 1989, começamos uma discussão interna de nossas atividades como palestrantes sobre drogas psicoativas nas escolas. Demos início a um amplo debate, simultaneamente, nas disciplinas de Farmacologia dos cursos de Medicina da Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG e da Fundação Universidade Federal de Pelotas – UFPel. Concluímos que era preciso tornar o trabalho institucionalizado, com características de projeto extensionista científico, em que as técnicas e os métodos utilizados pudessem ser avaliados e corrigidos adequadamente de acordo com as necessidades de cada grupo populacional, momento histórico e outras peculiaridades próprias que envolvem o assunto drogas psicoativas.

Nessa fase, além dos autores, tiveram papel relevante e decisivo as professoras:

Beatriz Tejada de Oliveira;
Ana Luiza Muccillo Baisch;
Julaine Paldês da Costa;
Guiomar Francisca Teixeira de Oliveira;
Tânia Regina Venske de Almeida e
Gilma Trindade.

Sob nossa coordenação, montamos o primeiro projeto da FURG na área de prevenção a drogas psicoativas. Foi chamado de “Uma Abordagem Farmacológica da Dependência por Drogas”. O nome levava a chancela da farmacologia porque, praticamente, todos os professores eram dessa disciplina, com exceção das duas últimas, que eram professoras de Biofísica, mas do mesmo Departamento de Ciências Fisiológicas. O projeto tinha como objetivos conhecer a realidade sobre o consumo de drogas nos municípios do Rio Grande, de Pelotas, de Santa Vitória do Palmar e de São José do Norte e, ainda, propor um Programa Educativo e Preventivo para as escolas. Pelotas não participou porque a Universidade não aceitou.

Assim, demos início aos trabalhos nos demais municípios, com o apoio da FURG. A proposta era audaciosa e ao mesmo tempo simples, mas, sem dúvida, exigiria muitos anos de persistente, árduo e paciencioso trabalho de uma grande equipe.

OBJETIVOS E METAS

O objetivo geral do projeto era prevenir o consumo abusivo de drogas psicotrópicas entre os estudantes de 1º e 2º graus (como eram chamados os alunos do ensino fundamental e médio na época) das cidades do Rio Grande, Santa Vitória do Palmar e São José do Norte, no Rio Grande do Sul (RS).

Por outro lado, os objetivos específicos ficaram assim determinados:

1 – Conhecer a realidade sobre o uso de drogas psicotrópicas nas escolas do Rio Grande, de Santa Vitória do Palmar e de São José do Norte/RS.
2 – Desenvolver na população estudantil, através do professor, um Programa Educativo e Preventivo sobre drogas psicotrópicas.
3 – Funcionar como uma Central de Informações e Assessoria Científica permanente para as escolas.
4 – Estimular a implantação de linhas de pesquisa sobre substâncias psicotrópicas encontradas em produtos naturais.

As metas a serem atingidas foram estabelecidas após uma grande discussão com o grupo que se formava, levando-se em conta a responsabilidade que se estaria assumindo com a comunidade regional e a complexidade do problema a ser enfrentado.

O primeiro desafio foi a construção do Projeto. Ele deveria ser amplo o suficiente para atender a região e apresentar baixo custo, porque na metade sul do Estado do Rio Grande do Sul é baixo o poder aquisitivo e os órgãos brasileiros de fomento à pesquisa não davam, como continuam não dando, prioridade a esse tipo de intervenção na comunidade.

O Projeto foi construído a partir da bibliografia que nos era disponível na época, mas levando-se em consideração as características de nossa região de trabalho. Rio Grande apresentava uma taxa de urbanização de 93,8% que vivia, predominantemente, do trabalho na indústria, no comércio, no porto e na pesca. São José do Norte não contava com indústria de porte, vivendo sua população, principalmente, do cultivo da cebola e da pesca artesanal. Santa Vitória do Palmar tinha como principal fonte de renda a orizicultura e a pecuária. A rede de ensino era constituída de 40 escolas estaduais, 148 escolas municipais, 27 escolas particulares, uma federal e uma universidade (1).

O projeto foi fundamentado na preocupação mundial da crescente relação entre o narcotráfico, a produção de novas drogas, as conseqüências de seu uso, abuso e dependência e a falta de informação da população. Baseava-se nas conclusões da Conferência Mundial sobre Drogas, realizada em Londres, no dia 11 de abril de 1990, sob o patrocínio da ONU e com a participação de 112 países, incluindo o Brasil. Os participantes defenderam que o alerta para o perigo das drogas deveria começar na escola primária, através de informações científicas, para que o jovem pudesse, com esse conhecimento, fazer a melhor opção.(1)

No Brasil, as pesquisas de Carlini em escolas de 1º e 2º graus das principais capitais brasileiras, demonstravam que as crianças e adolescentes, das diferentes camadas sociais, se envolviam, cada vez mais cedo, com o consumo de drogas.(1)

O projeto constava de 9 etapas: a primeira foi a de solicitação de autorizações para que o projeto fosse implantado; a segunda foi a da criação de um instrumento de pesquisa; a terceira, a do levantamento do consumo de drogas nas escolas; a quarta, a da entrega dos resultados para as escolas com proposta de programa de capacitação de professores; a quinta, foi a da instalação, na Universidade, de uma equipe técnica de assessoramento; a sexta, a da criação de grupos de educadores nas escolas; a sétima, a criação de um Programa Interno Educativo e Preventivo sobre o Consumo de Drogas Psicotrópicas na FURG; a oitava, foi a proposta do desenvolvimento de um Centro de Referência; e, finalmente, a nona foi a criação de uma linha de pesquisa com plantas psicotrópicas.

Para a execução do projeto, essas etapas foram transformadas em metas a serem atingidas, considerando-se as dificuldades que começaram a surgir quando apresentamos o projeto, pela primeira vez, no próprio Departamento de Ciências Fisiológicas, do qual nós fazemos parte e que deveria ser a sede do mesmo.

META 1 - AUTORIZAÇÃO PARA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO (1989)

Para obtenção da autorização de instalação do projeto, em primeiro lugar, procedemos a apresentação do mesmo às duas Universidades envolvidas, FURG e UFPel; posteriormente, promovemos encontro com a Policia Federal do Rio Grande (RS); as Secretarias Municipais de Educação de todos os municípios envolvidos; as 5ª e 18ª Delegacias Estaduais de Ensino (como eram chamadas as atuais Coordenadorias de Educação); as escolas particulares do Rio Grande (RS) e Santa Vitória do Palmar (RS); o Conselho Federal de Entorpecentes – CONFEN; o Conselho Estadual de Entorpecentes do Rio Grande do Sul – CONEN/RS; o Conselho Municipal de Entorpecentes do Rio Grande (RS) e o Conselho Municipal de Entorpecentes de Pelotas (RS). Recebemos o aval de, praticamente, todas as instituições; algumas delas manifestando-se por escrito, dando incondicional apoio à proposta. Apenas não apoiaram a iniciativa as entidades do município de Pelotas, que, por motivos éticos, deixaremos de comentar as razões alegadas.

META 2 - CRIAÇÃO DO INSTRUMENTO DE PESQUISA (1989)

O instrumento utilizado foi um questionário autopreenchível, elaborado pela equipe e constituído de dezesseis questões visando determinar o perfil demográfico da população estudantil da 5ª série do, então, primeiro grau até a 3ª série do segundo grau; a situação conjugal dos pais e uma série de informações relacionadas ao consumo de drogas. O instrumento completo é apresentado no final desse capítulo.

META 3 - LEVANTAMENTO SOBRE O CONSUMO DE DROGAS NAS ESCOLAS (1989-1990)

Os questionários foram testados e aplicados nas salas de aula das escolas, por estudantes bolsistas da FURG previamente treinados. Após o preenchimento, foram recolhidos, empacotados e codificados para evitar identificação. Para análise gráfica dos resultados e cálculo estatístico, foi desenvolvido um software especial pelo acadêmico Rodrigo de Souza Soares.

Foram aplicados 11.817 questionários, sendo 9.954, a estudantes do Rio Grande (RS); 1.338, à população estudantil de Santa Vitória do Palmar (RS) e 497, a escolares de São José do Norte (RS). A análise dos questionários permitiu concluir que 18% dessa população já foram convidados a utilizar drogas, e que 6,2% já haviam feito uso na vida. A droga mais utilizada na vida foi a maconha (37,2%), seguida dos solventes voláteis (13,0%).(2)

META 4 - ENTREGA DOS RESULTADOS PARA AS ESCOLAS COM PROPOSTA DE PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DE PROFESSORES (1990 – 1994)

Após a análise dos resultados, foi preparado um relatório circunstancial para cada escola. Em dia e hora marcados, em reunião com os professores e em algumas escolas também com os pais, a equipe do projeto fazia a apresentação e a discussão do documento e propunha um programa de capacitação aos professores. Foram 43 escolas visitadas no Rio Grande. Nas escolas de Santa Vitória do Palmar e São José do Norte, por se tratar de cidades menores, os encontros foram promovidos, nos respectivos municípios, pela equipe do Projeto e pelas prefeituras, mas, mesmo assim, cada escola recebeu seu relatório individualmente.

O programa de capacitação dos professores, então proposto, compreendia visitas mensais da equipe técnica do projeto às escolas, em dia e hora marcados, com o objetivo de trocar informações sobre as drogas mais consumidas e estimular a abordagem do assunto como tema transversal. Eram programadas oito reuniões, com uma avaliação no final. Das 43 escolas do Rio Grande apenas 9,3% completaram os oito encontros. Em Santa Vitória do Palmar (RS) e São José do Norte (RS), a estratégia utilizada foi diferente, pois promovemos um encontro de 12 horas em cada cidade, onde, em nossa avaliação, o aproveitamento foi melhor.

META 5 - INSTALAÇÃO NA UNIVERSIDADE DE UMA EQUIPE TÉCNICA DE ASSESSORAMENTO

A complexidade do assunto exigia, cada vez mais, a participação de um maior número de profissionais com outros conhecimentos, para que o assessoramento a que nos propúnhamos se tornasse mais eficiente, qualificado e atendesse às tendências dos programas de prevenção preconizados nos anos 90.

Novos profissionais foram convidados e se engajaram na equipe, dando uma característica de muldisciplinaridade ao grupo. Foram eles os professores da FURG: Isabel Cristina Belmonte (enfermeira); Ivaldir Sabino Dalbosco, Magno José Spadari, Moacir Assein Arus (médicos); e as voluntárias Ana Isabel de Faria Correa Prietsch (médica); Tane Maria Gomes e Joyce Burd Neumann (psicólogas) e Naira N. Oliveira da Silva (assistente social). Nesse período, foram importantes as participações das Professoras Elisabeth Schmidt Feris (da FURG), Lígia Seibel e Regina Lavieira Laurino (voluntárias) pela introdução de métodos e técnicas pedagógicas que vieram fundamentar teórica e praticamente o projeto com características educativas.

Conseguimos, assim, criar um grupo de colaboradores que nos permitia dar assessoria e consultoria, agora não somente para as escolas, mas, também, para toda a comunidade da região.

META 6 - CRIAÇÃO DE GRUPOS DE EDUCADORES NAS ESCOLAS

O Projeto Drogas, como passou a ser chamado, abreviadamente, o Projeto Educativo e Preventivo sobre o Uso de Drogas da FURG, atuou com reuniões mensais junto às escolas municipais, estaduais e particulares, atingindo professores, diretores e pais, na tentativa de formação de grupos multiplicadores de um programa de prevenção para cada escola. Nesse mesmo período, foram promovidos cursos de capacitação para professores, com o intuito de mantê-los atualizados. Paralelamente a essa atividade, o Projeto promoveu palestras a instituições, tais como a Brigada Militar (6º BPM), o Grupamento dos Fuzileiros Navais, entre outras, com o propósito de atingir o maior número possível de pessoas dos diversos segmentos da sociedade.(9)

Em 1994, como as solicitações eram muitas, resolvemos começar a adotar a sistemática de subprojetos, que é utilizada até a presente data. Na época, foram criados: Treinamento de Professores de 1º e 2º graus; I Semana Gaúcha de Combate às Drogas em Rio Grande; Televida; Treinamento de Professores e Técnicos que Atuam no CAIC da FURG; Conhecendo o Consumo de Drogas na FURG e Centro de Atendimento do Dependente de Álcool e outras Drogas. Nesse período merece destaque o serviço prestado pelo pessoal de apoio do Departamento de Ciências Fisiológicas da FURG: Cleuza Medeiros (secretária); Maria Angélica B. de Oliveira (assistente de administração); Laura Oyarzabal Rivera, Regina Maria Cadaval Corrado, Roseli Aparecida da Silva Nery, Valquíria Campos Lopes, Maricler Ávila (técnicas de laboratório); Fábio Moreno e Luiz Carlos Costa (auxiliares de zootecnia) e Jurema Monte Acosta (servente), sem o qual, grande parte das atividades desenvolvidas pelo Projeto Drogas não poderiam ter sido realizadas.

No mesmo ano de 1994, em 25 de junho, lançamos o hino do Projeto Educativo e Preventivo sobre o Uso Indevido de Drogas “Você Merece Viver”, letra e música de autoria da Professora Elisabeth Schmidt Feris, em uma cerimônia pública no Largo Dr.Pio, durante a I Semana Gaúcha de Combate às Drogas no Rio Grande. O Hino tornou-se um instrumento importante de aquecimento e sensibilização de trabalhos de grupos realizados com a comunidade. Em nossa biblioteca setorial temos uma fita cassete gravada no Estúdio Som – Pelotas, pelo conjunto musical: vocal – Felipe Mello; Flauta – Gil Soares; baixo – Rodrigo Reinheimer; Teclado – Fernando “Bizo” Silva e bateria – Luke Faro e o técnico de som Hélio Mandeco.

Em 1995, para avaliar os resultados do trabalho desenvolvido anteriormente nas escolas, foi realizada a II Pesquisa no meio estudantil do Rio Grande. Os resultados, resumidamente, mostraram uma diminuição no consumo de drogas ilícitas e um pretenso aumento na utilização de drogas lícitas, como o álcool e o tabaco. Uma análise mais apurada demonstrou que, na realidade, o que aconteceu foi que os estudantes passaram a identificar essas substâncias também como drogas.(10,11)

META 7 - CRIAÇÃO DE UM PROGRAMA INTERNO EDUCATIVO E PREVENTIVO SOBRE O CONSUMO DE DROGAS PSICOTRÓPICAS NA FURG

Como não poderíamos deixar de lado a comunidade universitária, nesse mesmo ano de 1995, iniciou-se um trabalho educativo e preventivo dentro da própria FURG, seguindo técnica semelhante à que se vinha utilizando na comunidade estudantil de ensino médio e fundamental.(10)

Os resultados demonstraram que, entre os servidores da FURG, as drogas mais consumidas na vida foram: álcool, 98,2%; tabaco, 78,4%; maconha, 10,4%; ansiolíticos, 5,0%; solventes, 2,9%; cocaína, 1,7% e outras drogas, 2,0%. Entre os estudantes encontramos as seguintes prevalências: álcool, 96,0%; tabaco, 59,7%; maconha, 29,9%; anfetaminas, 21,5%; solventes, 21,0%; ansiolíticos, 10,0%; cocaína, 8,2% e outras drogas, 12,3%.(10,12)

Como medidas educativas e preventivas foram adotados os seguintes procedimentos: oficinas sobre o assunto drogas para os estudantes; aplicabilidade da lei 6368 com regulamentação deliberada pelo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (COEPE)(13), publicações mensais de informações sobre o assunto através do periódico RH Informativo distribuídas entre o os servidores, proibição do fumo em salas de aula e reuniões através de Resolução do Conselho Universitário (CONSUN)(14), proibição da comercialização e propaganda de bebidas alcoólicas e tabaco nos campi por deliberação do Conselho Departamental (CODEP)(15).

O Projeto continua promovendo cursos de capacitação; confecciona material bibliográfico; iniciou um sistema de oferecimento de cursos para multiplicadores para jovens, pais, servidores de escolas e militares; criou grupos interativos de pais, servidores de escolas e alunos; mantém um acervo bibliográfico; oferece um serviço de telefone de utilidade pública – o TELE-VIDA, nº (53)2329433 – duas páginas na internet – www.octopus.furg.br/drogas e www.cenpre.furg.br e um sistema de perguntas e respostas, na primeira página, intitulado Dr Polvo Responde, para esclarecimentos e informações à comunidade. Na área da pesquisa experimental trabalha com animais de laboratório em estudos de comportamento e de memória e substâncias psicotrópicas.(16)

META 8 - CRIAÇÃO DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA (CENPRE)

Seguindo essa linha de atividade, não poderia deixar de atuar também na área de recuperação de dependentes químicos, considerando-se a carência de serviços especializados na região.

Partindo da realidade já existente, do pressuposto de que a região necessitava de local para recuperação de dependentes químicos e de que a FURG dispunha dos elementos básicos necessários, criou-se o Centro Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos (CENPRE).

O CENPRE começou em 1994, com o lançamento do subprojeto “Centro de Atendimento do Dependente de Álcool e outras Drogas” e a alocação de recursos humanos existentes na Universidade e dispostos a fazerem parte de um grupo multidisciplinar para estudar e desenvolver uma proposta de trabalho nessa área, adequada à região.

A base do Centro foi o Grupo de prevenção do Projeto Educativo e Preventivo sobre o Uso Indevido de Drogas do Departamento de Ciências Fisiológicas, que há quase dez anos trabalhava na comunidade. A ele foi agregado o Grupo da Superintendência de Administração de Recursos Humanos, Denise Gul Cardoso (psicóloga); Darlene Torrado Pereira e Maria Emília Mano Hartmann (assistentes sociais), profissionais com longa experiência na área. Foram longos anos de reuniões mensais de estudos e discussões das diversas propostas de centros semelhantes citados na bibliografia internacional, montagem do projeto, busca de local para instalação do Centro e alocação de recursos financeiros. Entre 1996 e 1998 trabalhamos no projeto arquitetônico, estabelecemos rotinas de atendimento, regimento interno e fizemos contatos com mais profissionais, considerando-se que, por se tratar de um projeto extensionista, ninguém teria tempo integral. Nesse período foram importantes as participações de: Dagmar Pardo e Sayonara Duarte Braz, psicólogas; Cláudia Dutra Oliveira e Maria Helene Ventura de Melo da Rosa, assistentes sociais; os matemáticos Tabajara Lucas de Almeida e Luiz Augusto Pinto Lemos; a bibliotecária Angélica Miranda; a psiquiatra Catherine Lapolli e a enfermeira Elaine Miranda Pinheiro.

Finalmente, em 21 de agosto de 1999 o CENPRE deu início ao seu Serviço de Tratamento e à organização do Serviço de Banco de Dados, mantendo ativo o Serviço de Prevenção já existente.(17,18)

1 - IDENTIDADE

Em agosto de 2000 a identidade ficou assim definida – “Trabalhando com a diversidade, em forma de equipe integrada, o Centro Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos – CENPRE é um grupo organizado para acolher pessoas, visando a prevenir e tratar transtornos relacionados ao uso de substâncias químicas. Ajuda essas pessoas a resgatar uma vida de qualidade, construindo, juntos, novos caminhos, constituindo-se, assim, em suporte e apoio para a saúde da comunidade”.(19)

2 - MISSÃO

"O CENPRE, como uma equipe multidisciplinar, visa atuar, de forma integrada com a comunidade, sobre os problemas relacionados ao uso de drogas. Destina-se à formação de recursos humanos, à prevenção, à pesquisa e ao tratamento, por meio de ações educativas interdisciplinares, buscando a transdisciplinaridade. Objetiva manter-se como um centro de referência e apoio a outras iniciativas do gênero, valorizando os estudos e a construção do conhecimento". Novembro de 2014

3 - OBJETIVOS

3.1 - Promover ações de prevenção primária, secundária e terciária ao uso indevido de drogas lícitas e ilícitas.

Para atingir esse objetivo desenvolve-se um programa multidisciplinar, através de abordagens específicas, para cada grupo populacional no município do Rio Grande e em municípios vizinhos, trabalhando na formação de uma rede de multiplicadores.

3.2 - Oferecer um serviço interdisciplinar de tratamento a dependentes químicos, tendo como população-alvo os habitantes da região Sul do Estado.

O programa de tratamento de abuso e dependência de substâncias psicoativas tem como objetivos básicos maximizar a saúde física e mental; aumentar a motivação para a abstinência, através da educação do paciente e de sua família sobre o curso usual do problema; o emprego de medicações apropriadas e modificação comportamental para impedir a recaída e auxiliar o paciente a reconstruir sua vida sem a substância.

Esses objetivos podem ser atingidos com reabilitação ambulatorial, psicoterapia individual, grupoterapia, farmacoterapia, grupos de autoajuda, arteterapia e programa de prevenção terciária, oferecidos pelo CENPRE.

3.3 - Criar um banco de dados sobre consumo de drogas na região, avaliar as técnicas de prevenção e os métodos de tratamento empregados pelo CENPRE.

4 - SERVIÇOS

O CENPRE está estruturado em três serviços organizados de forma a atender seus objetivos específicos e manter a interação entre eles, em benefício de sua clientela. Os serviços estão assim denominados: Serviço de Prevenção; Serviço de Tratamento e Serviço de Banco de Dados.

4.1 – SERVIÇO DE PREVENÇÃO

Esse serviço tem por objetivo desenvolver projetos educativos e preventivos, dedicados aos diversos segmentos da sociedade. Para atingir esse objetivo amplo, o CENPRE utiliza o Projeto Educativo e Preventivo sobre Drogas da FURG (20) e seus subprojetos:

SUBPROJETO 1 – TELE-VIDA

OBJETIVO: O Tele-Vida tem como objetivo informar as pessoas, por via telefônica, sobre saúde, higiene, drogas, intoxicações e locais de recuperação.(16)

SUBPROJETO 2 - PESQUISAS EPIDEMIOLÓGICAS

OBJETIVO : Manter um banco de dados sobre o consumo de drogas da comunidade do Rio Grande.

SUBPROJETO 3 - CAPACITAÇÃO DE GRUPOS INTERATIVOS

OBJETIVO: Criar um Grupo Interativo de pais, servidores do colégio e estudantes para discutir problemas e implantar soluções para reduzir o uso de drogas psicotrópicas.

SUBPROJETO 4 - FORMAÇÃO DE MULTIPLICADORES

OBJETIVOS: 1. Instrumentar os participantes para criarem projetos educativos e preventivos sobre o uso indevido de drogas. 2. Assessorar os novos Multiplicadores na criação de projetos e na estruturação de sua proposta de intervenção junto às populações a que pertencem.

SUBPROJETO 5 - PROGRAMA EDUCATIVO E PREVENTIVO PARA AS IFES DA REGIÃO SUL DO BRASIL

OBJETIVOS: 1. Conhecer a prevalência do consumo de psicotrópicos nos três segmentos universitários (alunos, técnicos e professores); 2. Adaptar um programa educativo e preventivo para essa comunidade; 3. Servir de subsídio para um  programa de recuperação de dependentes na universidade.(21)

SUBPROJETO 6 - PROGRAMA EDUCATIVO E PREVENTIVO PARA EMPRESAS PRIVADAS

OBJETIVOS: 1. Conhecer a prevalência do consumo de psicotrópicos na empresa; 2. Adaptar um programa educativo e preventivo para essa comunidade; 3. Servir de subsídio para um programa de recuperação de dependentes na empresa.

SUBPROJETO 7 - EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO SOBRE DROGAS PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RISCO DO MUNICÍPIO DO RIO GRANDE- RS

OBJETIVO: Educar e prevenir o uso de drogas em grupos de risco.

SUBPROJETO 8 – PREVENÇÃO TERCIÁRIA

OBJETIVO: Proporcionar melhor qualidade de vida, desenvolvendo um curso para clientes do CENPRE sobre informações científicas relacionadas com os aspectos fisiológicos e psicológicos do homem, seu meio ambiente e as drogas psicoativas como precursoras da dependência química.

SUBPROJETO 9 – DR. POLVO RESPONDE

OBJETIVO: Informar os internautas, através do site: www.octopus.furg.br em sistema de perguntas e respostas, sobre saúde, higiene, drogas, intoxicações e locais de recuperação.

SUBPROJETO 10 – SITE DO CENPRE

OBJETIVO: Disponibilizar, ao maior número possível de internautas, os serviços, as conferências, as palestras, os cursos e as programações do CENPRE, através do site: www.cenpre.furg.br .

4.2 - SERVIÇO DE TRATAMENTO DO CENPRE

4.2.1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS

Esse serviço tem uma proposta de tratamento que foi discutida e elaborada durante dois anos por um grupo de profissionais da FURG e da comunidade rio-grandina das mais diversas áreas do conhecimento.

Os resultados dessas discussões levaram a diversas conclusões que se resumem em alguns princípios básicos que orientam o Serviço de Tratamento.

O tratamento e recuperação de dependentes químicos podem ser realizados com várias técnicas, tanto ambulatoriais, quanto de internação. Não existe uma técnica comprovadamente superior às demais, nem uma técnica que se aplique a todos os clientes. A determinação do plano terapêutico de um dado cliente deve ser feita através de cuidadosa avaliação global individual, por diferentes profissionais das mais diversas áreas da saúde. É importante conhecer o tipo e a gravidade do problema apresentado pelo indivíduo e a sua estrutura familiar, para indicar o tratamento que melhor se adapte a ele em dado momento. Também é fundamental que o profissional envolvido na recuperação possa avaliar a evolução do caso, para confirmar, corrigir condutas ou indicar outra modalidade terapêutica.(22)

Alguns princípios, contudo, são comuns às diferentes abordagens, como: não causar mais danos ao cliente; motivar o paciente e seus familiares para um compromisso com o tratamento; responsabilizá-lo pelo tratamento; não tratá-lo compulsivamente e escolher adequadamente o momento de aproximação.

Esses princípios comuns estão ligados ao “bom senso” de poder oferecer ajuda ao dependente sem lhe causar outros problemas, como internações desnecessárias, dependência por medicamentos em substituição à droga ou às drogas já utilizadas, interferência em sua individualidade ou, ainda, tratar o dependente como se não fosse capaz de optar e de assumir seus compromissos.(23,24)

Nesse contexto, existem opções de abordagens ambulatoriais e em regime de internação. Quando se trata de uma patologia com alta incidência e prevalência como o abuso e dependência de substâncias psicotrópicas, é importante dimensionar a magnitude da demanda a ser atendida, o custo do tratamento, os recursos disponíveis e a relação custo/benefício da técnica empregada, para obter o maior sucesso possível.

O tratamento ambulatorial geralmente é preferido, por abordar o paciente dentro de sua própria realidade, podendo atingir um número maior de pessoas, com um custo mais baixo. Alguns pacientes com sintomas psicóticos graves ou comprometimento cerebral orgânico pronunciado, podem necessitar do ambiente estruturado de uma internação, mas a maioria dos dependentes pode ser tratada com igual sucesso em um ambulatório. A reabilitação ambulatorial envolve desintoxicação, quando necessária, terapia individual, grupoterapia, terapia ocupacional, arteterapia, participação em grupos de auto-ajuda, abordagem familiar e prevenção da recaída.(24,25,26,27)

4.2.2 - PROPOSTA DE ATENDIMENTO DO CENPRE

O CENPRE utiliza terapia ambulatorial, que é realizada com participação efetiva do terapeuta. Tem como objetivos terapêuticos criar o hábito de observar o próprio comportamento, reações e o contexto associado; identificar situações de risco para o uso de substâncias e as funções atribuídas pelo indivíduo à droga; buscar novas formas novas de responder às situações e tentar redimensionar o papel da substância para a própria pessoa.

O usuário do CENPRE recebe um atendimento multidisciplinar e interdisciplinar, seguindo o seguinte fluxograma.

a) AGENDAMENTO

O paciente ou seu familiar fará a marcação da primeira consulta no setor de  agendamento do Hospital Universitário “Dr. Miguel Riet Corrêa Junior”.

b) ACOLHIMENTO

O paciente ou familiar será, inicialmente, recebido pelos assistentes sociais, que farão a avaliação social do paciente e de sua família. O assistente social encaminhará o paciente para a avaliação psicológica.

c) ATENDIMENTO PSICOLÓGICO

Esse atendimento terá início pela triagem psicológica que tem o objetivo de colher a história do paciente, identificar seu problema com drogas, solicitar avaliações pertinentes e indicar o tratamento específico.

d) TRATAMENTOS ESPECÍFICOS

Os tratamentos disponíveis são: psicoterapia individual; grupoterapia; terapia familiar e arteterapia.

Os pacientes poderão ter mais de uma modalidade terapêutica alternada ou simultaneamente, conforme suas necessidades e disponibilidade.

e) ATENDIMENTO PSIQUIÁTRICO

Os psiquiatras avaliarão os pacientes conforme as solicitações dos psicólogos e farão acompanhamento daqueles que necessitarem de tratamento psiquiátrico, além de “grupos de medicação”, para discutirem com os pacientes que fazem uso de medicações, os efeitos, os parefeitos, as intercorrências, a maneira de usar as medicações prescritas.

f) ATENDIMENTO CLÍNICO

O médico clínico tratará das complicações físicas que o paciente por ventura possa apresentar, tendo à disposição os exames complementares disponibilizados pelo SUS.

g) ATENDIMENTO DE ENFERMAGEM

O CENPRE dispõe de enfermeiros para avaliação e acompanhamento de seus pacientes, com consulta previamente agendada em complementação à avaliação e ao atendimento clínico.

h) DESINTOXICAÇÃO DOMICILIAR.

A desintoxicação domiciliar ajudará o indivíduo a descobrir sua própria capacidade para seguir o processo de recuperação com um mínimo de medicação. A desintoxicação domiciliar será realizada através de consulta de enfermagem.

A metodologia a ser desenvolvida inclui uma primeira entrevista, na qual o cliente é submetido a uma breve entrevista de saúde e uma completa história psicossocial. A avaliação dos sintomas de abstinência é feita através da escala (CIWAA) – Clinical Institute Withdrawal Assessement for Alcohol. Após, o cliente é avaliado a cada 48h, num período de sete a dez dias. Quando necessário, a medicação será usada sob supervisão médica da Equipe Técnica do CENPRE (25). A desintoxicação domiciliar encontra-se em fase de implantação.

i) PREVENÇÃO DA RECAÍDA.

Por fim, a prevenção da recaída consiste em identificar a ativação do pensamento automático que levou ao uso de drogas e modificar o estímulo de alto risco através do treinamento de habilidades de enfrentamento dessas situações. Tais habilidades consistem, especificamente, em manejar frustrações, ressentimentos, sentimentos desprazerosos, sentimentos eufóricos, eventos estressantes, tensões; treinar a comunicação social, o relacionamento social e amoroso, a autoconfiança e o asseguramento. Na prevenção da recaída busca-se um novo sentido para a vida do usuário.

Na prevenção da recaída está incluída a busca ativa do paciente em seu domicílio, para a sua reintegração ao programa de tratamento.(25)

4.3 SERVIÇO DE BANCO DE DADOS DO CENPRE

O projeto do banco de dados do CENPRE visa, fundamentalmente, a registrar e fornecer informações sobre os seguintes aspectos: cadastro de pacientes; fatores sociais do paciente e da família; fatores psicológicos e psiquiátricos; avaliações clínicas; mala direta aos clientes e resultados das pesquisas epidemiológicas realizadas pelos Serviços do Centro.

A base do Banco de Dados do CENPRE está sendo desenvolvida em Access, e as conexões on-line, com Dreamweaver. O sistema é uma ferramenta bem simples de se trabalhar, conta com bons recursos de segurança e possui um arquivo de ajuda que resolve grande parte das dúvidas.(28,29)

5 - EQUIPE TÉCNICA (2002)

a) SERVIÇO DE PREVENÇÃO

O Serviço de Prevenção é constituído por assistente social (01), consultor em dependência química (01), bacharel em direito (01), farmacologistas (04), pedagogo (01), psicólogo (01).

b) SERVIÇO DE TRATAMENTO

O Serviço de Tratamento é constituído por arteterapeuta (01), assistentes sociais (04), consultor em dependência química (01), enfermeiros (02), médico clínico (01), médicos psiquiatras (02) e psicólogos (05).

c) SERVIÇO DE BANCO DE DADOS:

O Serviço de Banco de Dados é constituído por dois professores de matemática.

d) ESTAGIÁRIOS

O Centro, como está localizado em uma instituição de ensino, oferece estágio supervisionado para estudantes dos cursos de Medicina, Enfermagem, Psicologia e Serviço social.

e) BOLSISTAS DA FURG

O Centro dispõe de bolsas que são financiadas pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande, através do programa de ajuda ao estudante. As bolsas têm a duração de nove meses e são distribuídas entre estudantes selecionados pelo CENPRE.

6 - A INTEGRAÇÃO DO GRUPO

A equipe técnica do CENPRE reúne-se semanalmente para discussão dos subprojetos de prevenção, do tratamento instituído a cada paciente, de assuntos científicos e de assuntos pertinentes ao Centro. A reunião de equipe é uma das tarefas imprescindíveis para a integração do grupo, manutenção da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade praticadas pelos serviços do Centro. Anualmente o CENPRE suspende suas atividades de atendimento para avaliação de suas atividades. Em geral, é um encontro realizado fora da cidade onde a equipe técnica passa de dez a doze horas reunida.

7 – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO CENPRE

O CENPRE possui um Conselho Administrativo do qual fazem parte todos os membros da equipe técnica; uma Coordenação Geral constituída pelo coordenador, um representante de cada serviço e uma secretária. Como é um programa extensionista, permanente, interdepartamental (envolve 04 departamentos, a Superintendência de Administração de Recursos Humanos e o Hospital Universitário) e interinstitucional (possui parceria com a Prefeitura Municipal do Rio Grande através da Secretaria Municipal da Saúde) da FURG, está subordinado ao Departamento-sede que é o de Ciências Fisiológicas e a Superintendência de Extensão.

META 9 - CRIAÇÃO DE UMA LINHA DE PESQUISA COM PLANTAS PSICOTRÓPICAS

As informações sobre os produtos naturais, com suposta atividade psicotrópica, utilizados pelos jovens da região com fins recreativos, começou a despertar o interesse do grupo do Laboratório de Farmacologia do Departamento de Ciências Fisiológicas, Departamento sede do CENPRE.

Esses dados, obtidos através de pesquisa epidemiológica, levaram a Profa. Eli Sinnott Silva a instalar uma linha de pesquisa experimental em animais na área da toxicologia e comportamento.

Com o recente retorno da pós-graduação, da Dra. Daniela Martí Barros, a linha de pesquisa foi ampliada para atuação também no campo da memória e, com a Dra. Ana Luiza Muccillo Baisch, no da nocicepção e no dos antiinflamatórios.

Os estudos toxicológicos e farmacológicos têm servido para identificar possíveis riscos decorrentes da utilização inadequada dessas substâncias e para o respaldo científico dos programas prevencionistas desenvolvidos pelo Serviço de Prevenção do CENPRE.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dez subprojetos desenvolvidos pelo Serviço de Prevenção do CENPRE cobrem todas as necessidades da região e fazem da FURG uma Universidade voltada para a comunidade, tornando-a beneficiária dos avanços científicos e tecnológicos que produz na área da educação preventiva ao consumo de drogas psicoativas.

A preocupação com a avaliação das atividades e a informação estatística é evidente pelo desenvolvimento do Serviço de Banco de dados.

A disponibilização das informações para a comunidade em geral, fica caracterizada pelos sites e pelo serviço de telefonia, mantidos pelo CENPRE, demonstrando, assim, sua preocupação em interagir dinamicamente com a sociedade.

Um Serviço de Tratamento multidisciplinar dessa natureza é pioneiro na região, oferecendo um atendimento exclusivo pelo Sistema Único de Saúde com características de atendimento individual. É uma abordagem altamente diferenciada, considerando-se a dependência química uma doença crônica à semelhança da diabete, da hipertensão e de tantas outras.

Ao encerrar este relato, não poderíamos deixar de agradecer a todos os administradores da Fundação Universidade Federal do Rio Grande que, ao longo desses anos, nunca mediram esforços para manter em atividade o Projeto Drogas, precursor do CENPRE. Lembrar com carinho todas aquelas pessoas e entidades que foram presença nos momentos de dificuldades e de vontade de parar e graças às quais muitas etapas foram vencidas. Referenciar a ardente paciência que envolve a equipe técnica do Centro, a qual permite buscar soluções ao que parece ser insolúvel. Aos jovens estudantes, estagiários e bolsistas, que substituem algumas horas de lazer por trabalho, demonstrando espírito extensionista e de cidadão comprometido com a comunidade, dizer que eles estão traçando o caminho dos futuros profissionais. Aos colegas que, pelos mais diversos motivos precisaram abandonar o grupo, expressar o reconhecimento pela valiosa contribuição dada nos primeiros passos de uma longa e infindável caminhada. Aqueles que deixamos de citar não são os menos importantes nessa construção, apenas fugiram, momentaneamente, de nossa falha memória.

Aos integrantes da atual equipe técnica do CENPRE, devemos lembrar que já fazem parte de uma grande história que iniciamos a contar de um Centro cujo  homófono de sua sigla é “sempre” que significa - “em todo o tempo” – “sem cessar” – ou seja, que não deverá ter mais fim, e isso é responsabilidade de todos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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10. Amarante-Silva F, Sinnott-Silva E et al. Levantamentos: Álcool e Tabaco; Anfetamínicos; Psicotrópicos 1 e Psicotrópicos 2 [on line] OctopusNet; março 1999 [acessado 27/7/2001]. Disponível em: www.octopus.furg.br/drogas

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13.Deliberação nº 20/93 do Conselho de Pesquisa e Extensão da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, que dispõe sobre a aplicabilidade da Lei 6.368 no seu Art. 5º . Secretaria dos Conselhos da FURG. Rio Grande. RS. Brasil, 1993.

14.Resolução nº 11/87 do Conselho Universitário da Fundação Universidade Federal do Rio Grande que dispõe sobre a proibição do fumo em salas de aula e locais de reuniões. Secretaria dos Conselhos da FURG. Rio Grande. RS. Brasil; 1989.

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22 Monteiro W. O tratamento psicossocial das dependências. Belo Horizonte: Novo Milênio; 2000.

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